Maio Amarelo chama atenção para altos índices de acidentes no trânsito

Em 27/04/2017
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“Meu nome é Hugo Brito, eu adquiri a moto em 2011, para poder facilitar meu ir e vir ao trabalho. Mas, infelizmente, no mês de fevereiro de 2014, eu fui acometido a um acidente, um veículo bateu em mim, eu fui arremessado e acabei ficando nessa situação, na cadeira de rodas, porque devido ao meu acidente eu sofri uma lesão na medula, que afetou as partes da minha mobilidade do corpo da cintura pra baixo.”  

Hugo passou praticamente todo o ano de 2014 no hospital. “Eu quebrei costela, desloquei o ombro e tive a fratura na coluna que afetou a medula. E por conta do decorrer de cicatrização e dessas situações que ocorreram por conta do acidente, eu tive que passar esse tempo todo internado entre coma, UTI. Recupera agora, melhora aquilo, melhora isso, vai operar, passa de um hospital pra outro, vai, volta…”     

Hugo Brito foi uma das mais de 34 mil pessoas que sofreram acidentes de moto em 2014. Ele escapou – por pouco – de ser uma das 820 pessoas que morreram em decorrência desse tipo de acidente naquele ano no estado. Mas acabou entrando no grupo de 11% dos motociclistas que ficaram paraplégicos e amputados por conta de acidentes. O número de ocorrências vem diminuindo nos últimos anos. Em 2015, caiu para cerca de 32 mil, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde. Mas ainda é um número alto, que ocasionou 719 mortes em 2015.

Estudo da Consultoria Legislativa da Alepe, de autoria de Lucas Coelho Paes, mostra que o número anual de mortes de condutores de motocicletas quadruplicou em relação ao índice de 15 anos atrás. Na maior parte das regiões administrativas de Saúde do Estado, há mais de 10 mortes por acidentes de moto a cada 100 mil pessoas, o que a Organização Mundial da Saúde classifica como epidemia.

De acordo com o secretário de Saúde do Estado, Iran Costa Júnior, o problema representa um desafio maior para o Governo do que nos casos da dengue. “O impacto dos acidentes de moto dentro na Secretaria de Saúde ele é devastador. Primeiro, do ponto de vista humano, são 800 pessoas em média que perdem a vida por ano. Se você for comparar com a epidemia da dengue, a epidemia são 70 pessoas em média que perdem a vida por ano na epidemia da dengue. Na moto, são em torno de 800 pessoas por ano que perdem a vida.”

A principal iniciativa do Governo do Estado para  combater essa epidemia de acidentes foi a criação, em 2011, do CEPAM – Comitê de Prevenção de Acidentes de Moto. O Comitê busca integrar várias secretarias no combate às mortes nesse tipo de veículo. O médico Hélio Calábria, coordenador de Educação do Comitê, conta como começou a iniciativa. “Ele surgiu quando nós estávamos assessorando o doutor João Veiga na direção do Hospital da Restauração. Nós fizemos uma pesquisa que mostrou que 50% dos leitos do hospital estavam ocupados somente por vítimas de acidentes de moto. Isso nos assustou muito, porque você ter o maior hospital público do Estado, são 700 leitos, metade desses leitos ocupados por uma única patologia, isso vai fazer com que falte leitos para as outras, todas as outras patologias.”

Entre as principais mudanças impulsionadas pelo CEPAM, está a regulamentação das motocicletas de até 50 cilindradas, as chamadas cinquentinhas. Isso pode ter ajudado na diminuição nos acidentes nos últimos dois anos, o que já causa um impacto positivo na saúde pública, segundo o médico Hélio Calábria. “Em relação ao custo para saúde, o custo é imenso. Em 2014, nós tivemos um custo de R$ 1,2 bilhão  em Pernambuco. Em 2015, nós tivemos uma redução de R$ 900 milhões, então nós tivemos uma economia de R$ 300 milhões. Essa economia, R$ 300 milhões que passa a sobrar para se atender ao câncer, para se atender ao infarto, para se atender doenças que são inevitáveis.”

Para o Governo, o grande desafio continua sendo diminuir os acidentes de moto no Interior. Na próxima edição do Assembleia Geral, confira depoimentos de vítimas e propostas para ajudar a solucionar o problema.